12 março 2016

A Jornada do Herói

Será que existe alguma figura mais interessante na literatura do que o herói? Este talvez seja o arquétipo mais admirado em quaisquer culturas, onde a idealização de um ser geralmente toma a forma que mais desejamos. 
Força, coragem e determinação costumam ser seus hábitos corriqueiros, quer seja no ocidente ou no oriente; no politeísmo ou no monoteísmo; na era moderna ou na antiguidade. 
Um dos maiores estudiosos sobre o tema “Herói” é o americano Joseph Campbell, que entre seus trabalhos, destaca-se o Herói de Mil Faces, um verdadeiro manual para aqueles que tentam entender como essa figura tão ímpar consegue atrair a atenção de povos tão diferentes e, ainda que não estejam intimamente ligados, formam uma linha tênue de caráter e imaginário. 
Ora, seria assim tão distoante imaginarmos a proximidade do estereótipo de Héracles, na 
cultura grega, com Krshina, no hinduísmo? Com o traçado do caminho do herói, ou a Jornada do Herói, como Campbell descreve, quais seriam as etapas que formariam esse ser tão próximo do divino, em toda a simbologia que envolve tal palavra.
A primeira etapa não seria outra que não A Partida, o momento em que o ser aparentemente comum é envolto em um novo mundo, completamente inesperado a uma primeira vista, onde geralmente o destino é o fator determinante. A novidade norteia então o caminho do herói, e ainda que em um primeiro momento exista a dúvida em sua mente se aquele trajeto deva ser trilhado ou não, seu senso de justiça o impelirá a tanto. 
Entretanto, nenhum grande herói pode se inserir em uma aventura dessas se não possuir uma proteção adequada. Os talismãs que protegem o nosso herói, ou mesmo são capazes de lhe dar uma força além da imaginável, são extremamente corriqueiros. O Fio de Ariadne, que permitiu a sobrevivência de Teseu ao labirinto do Minotauro, ou Escalibur, fiel companheira de batalha do Rei Arthur, são símbolos desse poder. 

Outro que não poderia faltar seria o nosso bom e velho guia. A Figura do Guardião é quase tão importante e presente quanto à do próprio herói; Teria Zeus se tornado o grande rei dos deuses, se sua avó Gaia não o tivesse escondido de seu tirano pai Cronos? Qual teria sido o destino de Bilbo, Frodo ou mesmo do próprio Aragorn, se Gandalf não os tivesse guiado? Em casos mais modernos, teria Harry Potter se desenvolvido tanto com o passar da história sem a figura de Dumbledore a ensinar-lhe? Fica evidente como esse início de jornada não pode ser superado sem tais presenças, e seria até mesmo uma ignorância imaginar que um ser arrancado de sua realidade, para viver uma aventura tão expoente, conseguiria lograr êxito por conta própria, ainda que o mesmo seja um dito herói.
Superada a primeira etapa, surge então a provação. A Iniciação é repleta de desafios para o nosso novo herói, sendo geralmente enredada uma série de acontecimentos que não só criam a relação de expectativa e esperança por parte do leitor no seu herói, mas também que só e somente só poderão ser superadas por este personagem, motivo principal de sua existência naquele universo. O ser central de uma profecia, tal como Rick Riordan muito bem cria com o seu carismático Percy Jackson; J.K Rowling com o mais uma vez presente Harry Potter; ou mesmo os irmãos Wachowski, em sua trilogia cinematográfica que cria O Escolhido Neo, no universo de Matrix. 
A superação dos atos do herói nessa fase é tão exemplar, que se forma aqui o momento da Apoteose, quando seus atos são tão fascinantes e até mesmo inexplicáveis, que somente a sua comparação com uma entidade divina poderia justificar tamanho poder. Seja pela admiração de seu povo, que o transforma em uma lenda, seja pelos próprios deuses, que o elevam a tal condição, fica nítido que a partir daquele instante, a condição de normalidade não mais lhe é aplicável. 



Tendo sua tarefa sido cumprida, inicia-se a terceira e última etapa, O Retorno. Estando o herói portando ou não um troféu como símbolo de seus atos de bravura, a necessidade primeira de seus atos não mais existe, e surge então a questão: como viver sua vida? Como pode um poderoso herói, quase equiparado a um deus, voltar à sua vida antiga? Como ele poderia retornar ao seu antigo mundo, tendo vivido prodígios dignos das mais antigas lendas? 
Nas Crônicas de Nárnia, o Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, os reis e rainhas de Nárnia vivem sua nova vida como sendo a real, e a antiga, algo já esquecido; no Senhor dos Anéis, Bilbo parte para Valfenda, para viver com seus amigos elfos, pois o Condado já não mais lhe cabe. 
Dessa forma, o herói assume a posição de Senhor de Dois Mundos: o seu de nascença, onde seria apenas mais um, provavelmente; e o seu novo, onde seu nome terá sempre um valor inestimável.  
E então meus amigos, gostaram do post? Espero que sim, pois agora que entendemos um 
pouco o que é um Herói, poderemos no nosso próximo post, conhecer o maior herói da 
cultura nórdica: Sigurd, ou como é mais conhecido aqui pras nossas bandas, Siegfried.

Até a próxima, e obrigado pela visita! Um grande abraço!

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